Conheça a intérprete de Libras que é referência na luta por acessibilidade para surdos nos games

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Streamer, narradora e intérprete de Libras, Jessyka ‘Suuhgetsu’ Maia é referência na luta por acessibilidade para surdos no cenário dos games.

O primeiro contato de Jéssyka com uma pessoa surda foi em 2014, quando o tio apresentou a nova namorada, que tinha surdez, para a família.

“A gente não entendia nada, e minha vó queria falar com ela, mas ficava brigando com meu tio, pois a garota não respondia… Foi aí que a gente entendeu que ela era surda”, comenta Jéssyka. “Aí, eu sentei com ela e pedi para me ensinar algumas coisas, mostrar alguns sinais”.

Assim, quando Jéssyka estava terminando a faculdade de Direito, no começo de 2015 ela decidiu prestar vestibular para bacharel em Letras Libras na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e foi aprovada. Além disso, em seu trabalho de conclusão de curso (TCC) do curso de Direito, ela resolveu unir as duas coisas e apresentou um TCC sobre o direito à educação da pessoa surda.

“Quando entrei na faculdade de Letras Libras foi quando minha vida mudou. Eu comecei a gostar da parte profissional disso, de ser intérprete, tradutora”, explica.

Libras nos Games

Dessa forma, Jéssyka decidiu unir a paixão por jogos eletrônicos por sua nova paixão pela Libras. E foi jogando League of Legends com seu professor da faculdade, que é surdo, que começaram a surgir algumas dúvidas sobre a experiência dos jogadores surdos nesses games.

“Foi aí que eu resolvi ingressar na área de games com toda essa questão da acessibilidade. Eu entrei em um grupo do Facebook com alguns surdos gamers e, na minha ignorância, achei que ia encontrar umas 200 ou 300 pessoas lá”, comenta, divertida. “Mas tinha mais de 5 mil integrantes e eu fiquei chocada. É muito conteúdo, e o pessoal lá conversa sobre tudo: falam sobre placas de vídeo, sobre os sinais…”.

Streamer, narradora e intérprete de Libras

Ainda em 2017, Jessyka teve a chance de conhecer um grupo chamado “LoL Surdos Brasil”, onde teve maior contato com a comunidade de surdos de League of Legends. Sentindo falta de conteúdo acessível, foi atrás fez suas pesquisas para colocar tudo na prática.

Jéssyka relembra que o começo como streamer foi difícil, por não entender muito bem sobre as plataformas e tudo o que envolve o mundo das lives. Ela conta que usava o celular como webcam, por que a intenção era apenas transmitir e narrar os campeonatos.

“Coloquei como meta o valor de uma webcam e os próprios espectadores me doaram o valor. Comprei o acessório para melhorar a qualidade da imagem e fiz minha primeira narração em libras”, declara.

“Nossa, foi super cansativo”, assume. “E foi na narração que eu percebi que não existem alguns sinais para o LoL em libras. Você faz com as mãos “BOT” para bot, letra por letra. Eles não tinham nenhum sinal específico para isso, então imagina fazer 4 horas de campeonato sinalizando letra por letra?”

Pronta para mudar a realidade da falta de sinais para o game, Jéssyka procurou o pessoal da organização e organizou lives periódicas com os deficientes auditivos para criar um sinalário (conjunto de expressões que compõe o léxico de uma determinada língua de sinais) para o LoL. Ela abria as lives, colocava as fotos dos personagens, itens, entre outros e fazia os sinais. Todo mundo opinava, se gostavam ou não, se funcionava, e foram criando juntos os sinais.

Conteúdo acessível no mundo dos games

Seu primeiro vídeo viralizado foi a tradução em libras do vídeo oficial da Riot Games do evento “Acampamento Yordle”. “A Academia de Piltover entrou em contato comigo para continuar a fazer conteúdos acessíveis. Com o apoio deles, a própria Riot entendeu que era é um conteúdo que faltava, sabe? Porque para entrar na Academia de Piltover não é para qualquer um que entra, então fiquei muito feliz de estar ali”, confessa Jessyka.

Atualmente a intérprete produz conteúdo em Libras e utiliza legendas e áudio. “Gosto de deixar isso bem claro e explicar que o meu conteúdo é acessível também para ouvintes. Ele não é acessível para surdos, porque ele é para surdos. Assim consigo abrir o leque do público que atinjo e provocar outras pessoas para a importância disso”, explica.

“A luta por legenda na Twitch é uma coisa que estou sempre tentando, sabe? Já cheguei em streamers muito grandes que falam ‘aí, mas a legenda automática não é 100%, então eu prefiro não colocar uma coisa malfeita’. Só que 80% de algo para alguém que não tem nenhum auxílio é muita coisa. É necessário”.

Conquistando espaço no cenário

Em 2019, ela foi convidada para ser intérprete na Liga dos Surdos. Hoje, Jéssyka faz parte da diretoria da organização, com uma bagagem de diversos jogos como LoL, Fortnite, Teamfight Tactics e Counter-Strike interpretados em libras pela Liga. Ela também menciona a necessidade de especialização para os intérpretes de Libras e sua importância.

“Eu sempre fui gamer, desde pequena, então tenho conhecimento nessa área. Isso tudo me faz capaz de ser intérprete e tradutora aqui, assim como, se quisesse, fazer a mesma coisa na área jurídica, porque eu sou formada em Direito”, ressalta. “Hoje, posso dizer que sou intérprete especializada em esportes porque tenho esse conhecimento e fui me desenvolvendo com os trabalhos que fiz. É muito diferente você narrar uma partida de LoL e uma de CS, as coisas acontecem em tempos diferentes, existem coisas em ambos os jogos que uma pessoa leiga não vai ser capaz de sinalizar. Eu posso te falar o que é um gank, por exemplo, algo que uma pessoa que não sabe da área não vai conseguir explicar”.

Em 2022 Jéssyka Suuhgetsu realizou um sonho e foi a responsável pela coordenação da equipe de intérpretes de Libras no Campeonato Brasileiro de League of Legends (CBLOL). Ademais, Jéssyka é CEO no Librasnoesports e intérprete por diversos streamers e organizações de esports. Além disso, a organização Librasnoesports coordenada por Suuhgetsu foi criada em 2017 e atualmente realiza a interpretação em Libras, legendas descritivas, áudio, áudio descrição e descrições de imagens nas redes sociais.

Fonte: ESPN

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