A emoção de uma intérprete ao traduzir um parto

Redação Uníntese

A emoção de uma intérprete ao traduzir um parto. Parto realizado em Gravataí no Rio Grande do Sul quase não teve acessibilidade para um casal de surdos. Três meses de muita expectativa entre os pais de Miguel e a Intérprete de Libras escolhida para acompanhar esse momento tão especial que correu risco de não acontecer.

 “ A enfermeira foi logo me falando que eu não poderia entrar na sala do parto mas ia precisar de mim para explicar os procedimentos para a mãe antes da Cesária. Nesse momento não acreditei no que aquela enfermeira falou, pois ela sabia da importância de ter um Interprete para explicar o procedimento antes do parto mas não pensou que na hora a mãe também tinha direito de saber o que estava acontecendo, ou quando o bebê nascesse, seu choro…”

O depoimento é da nossa aluna Camila, que descreveu em detalhes os momentos deste dia tão importante.

A expectativa pela chegada do bebe que recebeu o nome de Miguel foi grande, e o silencio vivenciado por eles, exigia um planejamento de parto diferente. Embora todos os contratempos ocorridos, a intérprete de Libras nos conta a emoção de estar presente no parto.

“Na hora do nascimento do Miguel ele deu um chorinho e falei pra ela: – nasceu!  Ela ficou emocionada, então levaram ele pra uma sala e trouxeram ele já limpinho para ela ver… Então a Ana oralizou dizendo: – “não acredito que é meu”

Eu tremia igual vara verde kkkk”

Confira na íntegra o depoimento da nossa aluna que tanto nos orgulhou.

Depoimento: A emoção de uma intérprete ao traduzir um parto

3 meses antes do Miguel nascer eu recebi o convite da mamãe Ana Grazielle para eu ser a intérprete no seu parto, fiquei muito feliz pois já tinha recebido o convite de madrinha agora mais essa surpresa.

Então o grande dia chegou, eu estava nitidamente mais nervosa que a mãe, passamos no atendimento e avisei a atendente que eu era a intérprete e que iria interpretar o parto, pois o casal era surdo.  A atendente disse que eu deveria conversar com a enfermeira pois na sala só era permitido a entrada de um acompanhante, ou seja só o pai.

Fomos para o andar da maternidade e me direcionei para falar com a enfermeira, nesse momento ela já sabia meu nome e que eu era intérprete de Libras, foi logo me falando que eu não poderia entrar na sala do parto mas ia precisar de mim para explicar os procedimentos para a mãe antes da Cesária. Nesse momento não acreditei no que aquela enfermeira falou pois ela sabia da importância de ter um Intérprete para explicar o procedimento antes do parto mas não pensou que na hora a mãe também tinha direito de saber o que estava acontecendo, ou quando o bebê nascesse, seu choro…

Então eu disse para ela:  – Moça, os dois são surdos e eles tem direito de ter TODO o parto interpretado, isso é Acessibilidade! O hospital deveria disponibilizar e pelo visto vocês não fazem isso, então eu vou entrar sim!

Nesse momento a enfermeira ficou branca, e disse: – Ok! Só não toca em nada. kkkkkkk

O momento do parto.

No momento do parto achei um pouco errado eles pedirem para a Ana ficar com os braços estendidos e não poderia mexer, sei que isso é procedimento médico mas proibir de mexer as mãos de um surdo é o mesmo que amordaçar um ouvinte, então a Ana só poderia oralizar comigo quando tinha algo para expor, que é um procedimento que nem todos os surdos conseguem fazer.

Na hora do nascimento do Miguel ele deu um chorinho e falei para ela: – nasceu! Ela ficou emocionada! Então, levaram ele pra uma sala e trouxeram ele já limpinho para ela ver…. Então a Ana oralizou dizendo: “- não acredito que é meu”

Eu tremia igual vara verde kkkk

Agradeço muito a Deus por esse presente, é uma oportunidade única, e mais uma experiência levada para a vida.

Ser intérprete não é só passar informações, mas sim, amor, carinho, e emoção para os surdos.

Parabéns a nossa aluna Tradutora/Intérprete Camila Corcini

Uníntese

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